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buraco]entre[aberto teve início como um projeto contemplado pelo ProAC 2012  na categoria obras inéditas. Durante 05 meses, o Núcleo Aqui Mesmo esteve em residência com ensaios rotativos entre os 04 sítios de criação desta performance: Casa das Rosas, Casa das Caldeiras, Centro Cultural São Paulo e Condomínio Cultural Mundo Novo. Todo nosso processo de criação e ensaios aconteceram nestes locais e não em estúdios de dança. Ao fim desta trajetória a performance estreou nestes 04 lugares, tendo para cada sítio, um desenho singular do dispositivo coreográfico.

Considerando que a especificidade de uma proposição site–specific é, justamente, de não reproduzir espaços e, sim, de dialogar com as particularidades de cada lugar, nossa proposição para esta performance é de “residir” no local onde pretende-se circular com a performance, pelo menos durante quatro dias antes da data agendada para apresentação.  Isto significa que desenvolvemos nosso processo de re-criação da partitura coreográfica através de um mapeamento – de uma ocupação diária com dança – dialogando com o espaço selecionado para a apresentação  da performance.

Esta proposta tem, preferencialmente, lugares públicos[1] e espaços culturais como sítio[2] de criação, com o objetivo de estabelecer uma relação dialética entre a proposição artística e o “contexto” do lugar a ser desenvolvido o projeto.

A performance

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Objetivamente, um grupo de performers investem no espaço arquitetônico e simbólico, onde, através da percepção sensível e da interação do corpo em movimento com o lugar, constroem uma trama de faixas adesivas transparentes. As faixas se desgarram das paredes e avançam em diferentes pontos, não há regra fixa para estes avanços, mas, sim, a procura por um arranjo de ritmos e direções que animem e atualizem potenciais latentes do espaço.

O corpo como medida viva e pulsante da arquitetura, como molde dos espaços vazios, dos espaços ‘entre’ estruturas arquitetônicas ou, ainda, o corpo como potencializador para oferecer outras perspectivas para além das habituais são alguns dos elementos motores desta performance.

As partituras de movimento buscam transgredir as funções arquitetônicas e o uso habitual que o corpo faz dos espaços. A dança acontece a partir da fluidez e do ritmo da composição e do encadeamento de imagens criados pelo trio de performers. Imagens como: um corpo caminhando nas paredes e muros, ou seja, utilizando um plano vertical como se fosse um plano horizontal, ou um corpo em pausa, com o eixo invertido (de ponta cabeça), são algumas ações experimentadas para a construção da composição coreográfica.

Por meio da dança e da relação dialética com o lugar, estruturas efêmeras são construídas com as faixas adesivas, gerando um dispositivo de espacialidade própria e tridimensional, sem a pretensão de representar ou mimetizar as características do espaço.

Um objeto cinético é, assim, criado, convidando o público a uma sensação corporal desta espacialidade.

A performance ]entre[aberto tem uma ocupação dinâmica no local e uma característica itinerante. Assim, o público para assistir a performance, também é convidado a se deslocar e ter perspectivas múltiplas da performance e do lugar e está em constante negociação uns com os outros para ver e dar lugar ao outro. A maneira com que tramamos as fitas é,  então, influenciada e resultante da espacialidade criada pelas ações e reações do público.

Assim, ]entre[aberto ganha um desenho singular de acordo com as possibilidades arquitetônicas, geográficas e de fluxo de público  de cada lugar.


[1] Espaço público é aqui definido como espaço físico, aberto ou coberto, lugar comum situado entre espaços privados, mais igualmente como espaço simbólico e lugar de visibilidades.

[2] Anne Cauquelin define  o  ‘sítio’ como uma dialética entre ‘espaço’ e ‘lugar’. De acordo com a autora, o ‘lugar’ pertence a uma lógica da extensão e evoca o tempo e a memória. O espaço pertence a lógica do encaixe : o espaço dividido em setores, quarteirões, blocos. O ‘sítio’ corresponde, na verdade, ao paradoxo de um lugar encravado em um espaço abstrato. O sítio pertence então ao espaço ( posicionamento), que é aquele que pertence também a um lugar (memória, histórico, entorno). Ver : Anne CAUQUELIN, Le site et le paysage, Ed. PUF, coll. Quadrillage, Paris, 2002. p.78-86